Relacionamentos modernos – Parte 23

23 03 2011

 

Você ficou apaixonado por aquela pinta.
Não pelo conjunto no qual a pinta está inserida, o que seria o normal, mas somente por ela. Pela pinta em si. O resto é detalhe.
Aquela barriguinha perfeita não conta. O jeitinho delicado que ela segura os talheres também não. Pra você tanto faz, como tanto fez se ela torce pro seu time, se sabe cozinhar, se trabalha. Repito: pra você o que importa é a pinta. Apaixonou tá apaixonado. Já era !
Você não sabe explicar para seus amigos os motivos da nova paixão. Alguns até arriscam uma pergunta mais ousada e ouvem como resposta que a pinta que ela tem te fez cair de quatro. Enquanto alguns riem, gargalhando alto, outros sentem pena. Você deve estar maluco. Só pode estar. Como tem a cara de pau, de numa mesa de bar falar isso ? A culpa é daquele crápula do seu chefe que tem te prendido no escritório até altas horas.

Você está maluco !

O assunto continua até que o biruta da galera, digo, você, já não fala coisa com coisa. É só pinta pra cá, pinta pra lá, que alguns levantam sem pagar a conta e vão embora, deixando que a tal pinta pague a conta. As mulheres e filhos os chamam e eles tem mais o que fazer do que ouvir que a pinta que ela tem te fez cair de quatro.

Me poupe !

A situação diplomática está complicada, é guerra daqui, guerra dalí, e tsunamis, e terremotos, e enchentes. Você pede desculpas, mas não consegue fugir da pinta. Seu time está uma droga. O RH da sua empresa está num burburinho só, a dengue voltou com tudo, clonaram o seu cartão de crédito, … . Nada. Nada consegue desviar o seu foco da pinta.
E depois de ter sonhado com a porcaria da pinta a noite toda, você ainda consegue acordar e pensar nela.
Você está doente !
Os amigos que foram embora abruptamente ontem ligam na tentativa de saber se você está melhor. Você explica que não estava doente. Ah, mas está, garantem alguns. Outros deboxam novamente e desligam.
Você fez o check up anual, não fuma, só bebe socialmente, mantém uma dieta saudável. Não tem nada errado com você. Errada é aquela pinta, que milimetricamente te apaixonou, te deixou de quatro, zombou da sua capacidade de desapegar-se.
Pra você aquela pinta faz todo o sentido. Ou melhor, pra você a pinta é o sentido.
Seja feliz sem se importar com o julgamento alheio, afinal, enquanto uns riem e julgam, outros são felizes com as pequenas coisas.

E a pinta, literalmente, é uma delas.





Reflexões – Mundo

22 03 2011

Você já foi pressionado. Natural.
Já fui muitas vezes e ainda será outras tantas. Normal.
No entanto, a pressãozinha por uma nota melhorzinha aqui ou alí, por um relatório mais bem feito aqui ou acolá não se comparam à pressão afetiva.
O que acontece naturalmente no âmbito social, acontece friamente no emocional.
Se, de um lado, você despressiona, desafrouxa e segue com a vida, de outro você é esmagado, apertado e humilhado.
A pressão do coração traz o dedo em riste da sociedade, toca sua fronte, faz um julgamento sem critérios e te coloca uma etiqueta. Um rótulo barato.
A falsa privacidade marca uma entrevista coletiva da sua alma para que você explique-a ou pelo menos o tente fazer.
Que desaforo !
O mundo não quer saber seus verdadeiros motivos.
Se você já feriu ou foi ferido e por isso não compartilha a vida.
Ou se você simplesmente optou por fugir do clichê.
Ou se você não quer porque não quer e pronto.
O mundo não está nem aí.
O mundo quer preto no branco, quer sangue, sexo e notícias rasas.
E é exatamente aí que aquele rótulo se encaixa.
Nessa falsa necessidade por informações, que esbarram nas fofocas, tropeçam nas mentiras e topam com as manchetes de péssima qualidade.
Ninguém está realmente interessado nos seus sentimentos, medos, vontades, desejos.
O discurso romântico também não deve ser interpretado restritivamente.
O mundo precisa saber que você tem alma, tem motivos, tem muito a mostrar além de um simples rótulo.
Estado civil não define ninguém.
Aliás, nada define alguém.
Pessoas não são passíveis de definições.
Pessoas são conjuntos que, com milhares de peculiaridades formam um todo extremamente mutável.
E o mundo tem preguiça disso. Muita preguiça.
Pastilhas de vida são colocadas em copos para efervescerem enquanto o mundo faz outras coisas de múltiplas sortes.
Tenha calma mundo.
Porque enquanto suas notícias forem lidas pelas manchetes, suas mentiras ditas mil vezes tidas como verdade e suas pessoas forem selecionadas por rótulos, estaremos perdidos.
Me desculpe mundinho, mas, nesses casos, prefiro ficar offline.
Você deveria fazer o mesmo.





A volta – Parte II

22 03 2011

Desculpas.
Pelo tempo ausente.
Pela bagunça deixada.
Pela falta de satisfação.
Pelo sumir e ponto quase final.
Desculpas.
O tempo foi tão necessário quanto a bagunça.
A vida foi reorganizada, repensada, vista e revista.
As fases naturais implicam nestes acontecimentos pontuais.
Voltei.
Voltamos.
Desculpas.
Aceitas ou não, continuemos.
É importante.
Diria que muito, muitíssimo.